A vida e a adaptação a ecossistemas tropicais
Apenas uma pequena parte do saber produzido pelos índios das famílias lingüísticas tupi e puri foi registrada. Todos os grupos indígenas que viviam no Rio de Janeiro foram extintos, antes mesmo que tivéssemos um conhecimento mais profundo de como viviam e sem que nos apropriássemos de muitos saberes vitais por eles produzidos. Trata-se de uma perda irreparável, pois como explica o etnobiólogo norte-americano Darrell Posey, "com a extinção de cada grupo indígena, o mundo perde milhares de anos de conhecimentos acumulados sobre a vida e a adaptação a ecossistemas tropicais". Nesse processo, no entanto, nem tudo se perdeu.
Esses índios acabaram legando à nossa civilização alternativas de sobrevivência nos trópicos, transmitindo-nos os inventos adaptativos que desenvolveram em milhares de anos, concretizados nos métodos de plantar, caçar e pescar. Como escreve Darcy Ribeiro, "eles cultivavam, habitualmente, em suas roças, umas quarenta plantas que são até hoje o sustento básico de nosso povo, como é o caso da mandioca, do milho, do amendoim, dos feijões e de muitas outras plantas. Domesticaram, também, dezenas de árvores, úteis, de onde tiravam o caju, o abacaxi, o pequi, o urucum, etc". Deram, portanto, contribuição fundamental para a formação do povo brasileiro, fluminense e carioca, num processo histórico conflitivo, quase sempre violento, que merece ser melhor estudado.