Luiz Pinguelli Rosa: O meu problema é específico com a emissão de gases do efeito estufa. Sou secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que por sinal é chefiado pela presidente da República. O Brasil assumiu compromissos em Copenhague de redução das suas emissões, sendo que mais de 70% delas provém do desmatamento. No mundo desenvolvido, o grande problema é o elevado consumo de combustíveis fósseis. Mas nós temos uma matriz energética diferenciada. Os brasileiros usam muito a hidroeletricidade e o etanol, que contribuem bem menos para as mudanças climáticas. Por fazer parte de um ciclo natural, essas fontes de energia apresentam uma emissão residual de gases. O desmatamento é o nosso maior vilão. O Brasil havia conseguido reduzir a devastação das florestas, mas esse projeto de alteração do Código Florestal abre brechas para os desmatadores.
CC: Por quê?
LPR: Conversei com os ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente. Também fiz consultas a ambientalistas e pesquisadores. Entre os especialistas mais destacados da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) há um consenso de que as mudanças favorecem o desmatamento. O texto final do relatório ainda está sendo discutido, mas na versão original apresentada pelo deputado Aldo Rebelo estava previsto a redução da área de proteção das matas ciliares, nas margens de rios e lagos, de 30 para 15 metros, o uso de topos de morros e encostas para a agricultura, a redução das áreas de reserva legal em certos biomas e uma anistia, um espécie de perdão, a quem desmatou. Muitos ficarão desobrigados a recompor a mata que derrubou. É um estímulo inequívoco ao desmatamento.