PROJETO: LIVRO SOBRE ALDEIA VELHA

Blog Aldeia Velha-Ipuca: não é um diário, como outros blogs - é um caderno de apontamentos das pesquisas

Autores: Sonia Regina e Fernando Oliveira - Produção: Rômulo Melo, da Pousada Beira-Rio

Parceiros: Pousada Beira-Rio , Pousada da Aldeia ,

Apoio: Secretário de Educação e Cultura e Vice-Prefeito Fernando Augusto Bastos da Conceição e Subsecretário de Turismo Antonio Henrique

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A 115km do Rio de Janeiro - no km 215 da BR 101 (mapa e dicas) - e aos pés da Serra do Mar, Aldeia Velha está cercada pela Mata Atlântica que abriga o raro mico-leão-dourado. De dia pode-se passear a cavalo e a pé, tomar banho no rio e nas várias cachoeiras. Antes do descanso nos campings ou pousadas vale conhecer os barzinhos abertos toda a noite. (fotos e slides).

Os 80 posts publicados desde 04.2 são sorteados para leitura a cada atualização desta página: ACESSE-OS em Postagens Aleatórias - na coluna da direita, onde também estão as parcerias. Atualmente estamos nos dedicando à releitura, compilação de dados e início das escrituras.

Continuem conosco e boas leituras!

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O Atual Rio São João

O rio São João inicia sua jornada a 800m de altitude, no município de Cachoeiras de Macacu, num ramo da serra do Mar conhecida por serra do Sambê. Seu curso, que antes tinha cerca de 133km, agora se desenvolve por cerca de 120 km, indo desaguar no oceano entre a vila de Barra de São João, na margem esquerda, e o povoado de Santo Antônio, que pertence a Cabo Frio, na margem direita. A diferença de comprimento entre o rio antigo e o atual se deve a perda de 13 km de leito, que desde 1984 encontra-se submerso nas águas da represa. 
Seus afluentes são, pela margem esquerda, os rios Panelas, São Lourenço, Águas Claras, dos Pirineus ou Crubixais, Riachão e Bananeira, o córrego do Espinho, os rios Maratuã, Aldeia Velha, Indaiaçu, Lontra e Dourado e as valas da Ponte Grande, dos Meros e do Medeiros. Pela margem direita, deságuam os rios Gaviões, do Ouro, os córregos Salto d’Água, Cambucás e Ramiro, os rios Morto e Camarupi, as valas do Consórcio, Jacaré e Pedras e por fim o rio Gargoá.
Os rios da margem esquerda têm maiores vazões que os da margem oposta, pelo fato de drenarem as montanhas, onde as precipitações são superiores as demais áreas da bacia.
Destacam-se como principais afluentes os rios Aldeia Velha (32km), Dourado (19km), Bananeiras (19km), Pirineus (18,3km), Maratuã (15,7), Indaiaçu (13km) e Lontra (13km), bem como a vala do Consórcio (19km).
O vale do rio São João e de muito de seus afluentes apresenta amplas superfícies de várzeas, sendo pequenas as áreas onde fluem encaixados, o que se dá exclusivamente no alto curso.    
O rio São João pode ser dividido do seguinte modo:
·          alto São João - das nascentes, no trecho de montanha, até ingressar na planície, com 5km;
·          médio São João – dão ingressar na planície até a represa de Juturnaíba, com 50km;
·          represa de Juturnaíba, onde cerca de 13 km de leito estão submersos;
·          baixo São João - da barragem até a foz, com 65km;
O Alto Curso
O alto curso do rio São João possui um comprimento de apenas 5km. As nascentes situam-se a cerca de 7 km ao sul, em linha reta, da estrada RJ-126, que une Gaviões a Japuíba (Cachoeira de Macacu). Na forma de um filete de água e depois de um regato, o rio despenca de 800m de altitude para 200m nos dois quilômetros iniciais. Com mais 1,8 km já esta a 100 metros de altitude.
No alto curso, o rio flui com águas límpidas, o canal é sinuoso, com pequenos remansos e o leito tem muitas pedras e areia entre elas. As matas protegem o rio na parte superior e em alguns trechos medianos.
O Medio Curso
Ao deixar a área montanhosa tem início o médio curso, que se prolonga por mais 50 km até desaguar na represa de Juturnaíba, desenvolvendo-se em vale espremido entre as serras ao norte e o planalto ao sul. Pouco depois de abandonar a montanha, o rio já esta em altitudes inferiores a 60m. No trecho inicial do médio curso, o rio tem rumo nordeste e cruza a RJ-126 poucos antes de receber o rio Panelas pela margem esquerda. Apresenta um canal com 4 m de largura, meandrado e com poucos trechos retilíneos. O leito é predominantemente arenoso, com poucas pedras. Não há matas nas margens, apenas pasto. Próximo à desembocadura do rio Panelas, o São João ultrapassa a divisa dos municípios de Cachoeira de Macacu e Silva Jardim. 
Daí em diante segue com curso descrevendo meandros suaves através da estreita planície até a confluência com o rio Águas Claras, sendo atravessado no caminho por uma vicinal que sai de Gaviões e toma o rumo norte. Sob a ponte desta estrada o canal tem 9m e águas barrentas. As margens são altas, erodidas e tomadas por ervas. Da confluência do rio Águas Claras para jusante, o vale alarga-se até a ponte da BR-101. A partir da desembocadura do rio Águas Claras começam os trechos retificados do curso médio do rio São João. Há nitidamente três estirões de canal reto. O primeiro vai da desembocadura daquele rio até a do rio Pirineus. O segundo prolonga-se daquela ponto até o encontro com o Riachão, enquanto o terceiro termina na confluência com o rio Cambucás, pouco a jusante da BR-101.
O leito retificado tem largura média de 5 -6 m, é raso e com seção retangular, possui água barrenta e as barrancas são altas, íngremes, com nítidos sinais de erosão lateral. As margens encontram-se sem qualquer mata protetora. Este é o estirão que foi atacado pela extração de areia, que acabou acentuando os danos causados no leito pelas obras de retificação. Observam-se crateras laterais ao rio provocadas pela escavação irregular para retirada de areia, temporariamente embargada pelo IEF e IBAMA. 
A partir do encontro com o Cambucás, o São João segue em linha reta até a confluência com o rio Maratuã, que também teve seu baixo curso retificado. Após o Maratuã, o rio faz um pequeno giro, atravessa a estrada de ferro e pouco depois despeja sua águas na parte norte da represa de Juturnaíba. 
Debaixo das águas da represa, ficaram submersos cerca de 13 km do leito do rio São João. O volume de sedimentos transportados pelo rio tem promovido o assoreamento do braço da represa onde ele desemboca, criando um tipo de delta. Nota-se em todo o médio curso que após as obras de retificação, o rio prosseguiu alargando seu canal as custas da erosão das barrancas, tornando-se muito raso. As florestas ribeirinhas que ocupavam as planícies aluviais foram quase que integralmente suprimidas. 
O Baixo Curso
A jusante da barragem de Juturnaíba tem inicio o baixo curso do rio São João, cujo leito natural se estende por 65km até a foz. Todavia, com os canais artificiais construídos pelo DNOS, as águas agora percorrem 38,5 km, sendo 25km em canal reto e 13,5 no leito natural, entre o Morro de São João e a foz.   
As vazões no trecho são controladas em grande parte pelas descargas do vertedouro da barragem de Juturnaíba, acrescido dos deságües dos rios Aldeia Velha, Indaiaçu, Lontra e Dourado, cujas nascentes estão em serras com elevada precipitação. Os afluentes da margem direita nascem nas colinas com pequena altitude em Araruama e Cabo Frio, em zona onde a precipitação é bem menor. Por esta razão, seus caudais pouco contribuem com o volume de água escoado, a exceção da vala do Consórcio. 
Ao pé da barragem, presencia-se uma situação inusitada. Para escoar as águas liberadas pelo vertedouro e atuar como coletor principal de todas as valas e drenos da baixada, o DNOS rasgou na planície um canal reto com 24,5 km, que se desenvolve entre a barragem e um meandro do rio situado em frente ao morro de São João. O dreno artificial, que será chamado daqui por diante como “canal do DNOS”, é capaz de escoar um volume de 730 m3/s, atingindo, no trecho final, a capacidade de 820 m3/s. Como conseqüência, o curso do rio São João que parte da extremidade oposta da barragem, a 2,6 km ao sul do canal do DNOS, foi abandonado como via principal de escoamento, ficando a mingua no segmento inicial.   
O canal do DNOS é composto por três segmentos retilíneos. O primeiro e mais curto, sai em frente ao vertedouro e alonga-se por 2 km no sentido leste. O subseqüente parte do fim do primeiro e prolonga-se por 7 km na direção nordeste, recebendo na extremidade final uma vala que coleta as águas dos rios Aldeia Velha e Indaiaçu. Ambos constituem o limite sul da Reserva Biológica de Poço das Antas.
O último segmento, um retão de 15,5 km, segue no rumo leste e termina no leito natural do rio São João junto ao pé do Morro de São João, na localidade de Porto do Morro, onde terminam os efeitos da maré. Coleta no trajeto os leitos retificados dos afluentes e dezenas de valas construídas pelos fazendeiros.
Ao longo do caminho, o “retão” decepa os meandros do rio São João em vários momentos, criando pelo menos três grandes ilhas, duas ao norte do canal e uma ao sul. A primeira, que pode ser chamada de ilha Porto Pacheco, situa-se entre a antiga foz do rio Indaiassu e o deságüe do rio Morto. A segunda, aqui denominada como ilha do rio Preto, fica localizada em frente à desembocadura do rio Lontra. Ambas pertencem a Cabo Frio. A terceira e maior vai da foz do rio Camarupi até a localidade de Porto do Morro e pertence a Casemiro de Abreu.
Enquanto isso, anêmico a partir da barragem, o curso natural do rio São João segue sinuoso com sentido geral nordeste até a confluência com o rio Aldeia Velha, constituindo o limite entre os municípios de Silva Jardim e Araruama. É atravessado na extremidade pelo segundo segmento do canal do DNOS pouco antes do citado encontro fluvial. Neste trecho, recebe pela margem direita o córrego do Ramiro e algumas valas pequenas que evitam que fique seco, além da alimentação hídrica subterrânea. Em frente à localidade de Porto Sobara, o rio tem cerca de 15 a 40 m de largura e um baixo nível de água, evidenciado as conseqüências da perda hídrica. As águas são barrentas e as margens tem árvores esparsas. Em alguns pontos aparenta estar bastante assoreado. 
Após a confluência do rio Aldeia Velha, o São João aumenta o tamanho de seus meandros, gira para assumir o rumo geral leste e segue serpenteando pela baixada até a foz, fazendo o limite entre os municípios de Casemiro e Cabo Frio. O leito natural funciona como um conduto auxiliar de drenagem da baixada, posto que foi sobrepujado pelo canal do DNOS. Logo no início, o rio é atravessado pelo canal do DNOS próximo a desembocadura da vala do rio Aldeia Velha. Rio abaixo recebe pela margem esquerda a antiga vala de escoamento do rio Indaiaçu, pouco a montante da localidade de Porto Pacheco. Após esta, chegam no São João os rios Morto e Lontra, o canal do Amir, os rios Preto e Camarupi, as valas do Consorcio e Jacaré e o rio Dourado.
Em linhas gerais, entre a foz do Aldeia Velha e o morro do São João, o rio São João tem  margens planas com remanescentes de brejos e matas ribeirinhas, correndo as águas com baixíssima velocidade. O leito é arenoso e as águas relativamente limpas.
Abaixo você pode ver a foto de satélite que mostra um panorama da parte leste da baixada, destacando-se o morro de São João, o canal do DNOS e o leito natural do rio, com a presença de brejos e matas, as dezenas de valas menores construídas pelos fazendeiros e a ocupação urbana no litoral.    
   
Fonte: EMBRAPA
   
Seguindo adiante, o rio faz uma curva passando rente ao sopé do Morro de São João e, pouco depois, recebe o deságüe final do canal do DNOS pela margem direita. Daí até a o oceano são mais 13,5 km e oito curvas em zigue-zague, agora sob influência da maré e com manguezais ocupando trechos de ambas as margens. Passa a receber pela margem esquerda, as valas da Ponte Preta, dos Meros e do Medeiros e pela margem oposta, a vala da Pedra, que antigamente ligava-o com os brejos da bacia do rio Una, e por fim o rio Gargoá.
A Foz
Como bem notou A. Soffiati, no seu curso final o rio São João teve sua foz empurrada para o sul por uma ponta de restinga, onde hoje se assenta a cidade de Barra de São João. O rio beira esta cidade por mais de 1km e na margem oposta, a localidade de Santo Antônio. Diversas casas, muitas delas sem pertencer a pescadores, foram construídas sobre os terrenos públicos das margens após desmatamento do manguezal.
Na foz estão duas pontes, a da RJ-106 e uma construída em 1942, que desabou dezoito anos depois sem que jamais tenha passado sobre ela qualquer trem. Esta ponte foi implantada pelo Governo Federal para que a Estrada de Ferro Maricá partisse de Cabo Frio, que era a última estação, de encontro a Estrada de Ferro Leopoldina. Mas o projeto foi abandonado.    
Terminando sua jornada, o São João lança-se no oceano através de uma barra com cerca de 150 m de largura, guarnecida por um morrote na margem esquerda. Releva mencionar que o DNOS construiu também uma vala, hoje assoreada, ligando os brejos das baixadas dos rios São João e Una. Trata-se da vala do Marimbondo, que se unia à vala da Pedra.     

Fonte: CILSJ e Cunha  (1995)