PROJETO: LIVRO SOBRE ALDEIA VELHA

Blog Aldeia Velha-Ipuca: não é um diário, como outros blogs - é um caderno de apontamentos das pesquisas

Autores: Sonia Regina e Fernando Oliveira - Produção: Rômulo Melo, da Pousada Beira-Rio

Parceiros: Pousada Beira-Rio , Pousada da Aldeia ,

Apoio: Secretário de Educação e Cultura e Vice-Prefeito Fernando Augusto Bastos da Conceição e Subsecretário de Turismo Antonio Henrique

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A 115km do Rio de Janeiro - no km 215 da BR 101 (mapa e dicas) - e aos pés da Serra do Mar, Aldeia Velha está cercada pela Mata Atlântica que abriga o raro mico-leão-dourado. De dia pode-se passear a cavalo e a pé, tomar banho no rio e nas várias cachoeiras. Antes do descanso nos campings ou pousadas vale conhecer os barzinhos abertos toda a noite. (fotos e slides).

Os 80 posts publicados desde 04.2 são sorteados para leitura a cada atualização desta página: ACESSE-OS em Postagens Aleatórias - na coluna da direita, onde também estão as parcerias. Atualmente estamos nos dedicando à releitura, compilação de dados e início das escrituras.

Continuem conosco e boas leituras!

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O Antigo Rio São João


O rio São João é um dos principais cursos de água do Estado do Rio de Janeiro e seu nome é devido à Igreja de São João, localizada em sua barra. 
 
Ao longo dos séculos, o rio São João mereceu pouca atenção dos viajantes e cronistas. Aristides Soffiati cita que a melhor descrição do rio, antes do século XX, foi feita em 1817 por Manuel Aires de Casal. De acordo com Aires de Casal, o rio São João....”que principia na falda do Morro dos Canudos com o nome de rio Águas Claras, mais caudaloso, e navegável por maior espaço que o Macaé, corre como ele por entre matas, e montes, e desemboca sete léguas ao sudoeste do mesmo, banhando a falda meridional da montanha do seu nome (...) O Rio das Curubichas, e o do Bananal engrossam-no pela esquerda. O Bacaxá, que principia na Serra de Sant’Ana, com o nome de Rio do Ouro, une-se-lhe na margem direita por duas bocas, havendo formado pouco acima um grande lago, onde deságua o Capivari, que vem da mesma serra por entre eles. Abaixo desta confluência, que fica pouco mais de três léguas em linha reta longe do mar, desemboca o rio Ipuca, que principia perto do Macaé, e forma uma considerável ilha; depois o Rio da Lontra, e ultimamente o Doirado, junto do qual há um jequitibá, cujo tronco tem cinqüenta e seis palmos de circunferência. Todos três são navegáveis e se lhe incorporam pelo lado setentrional.”
 
Soffiati comenta ainda que “um viajante inglês .............navegou (no rio São João), da foz até o rio Dourado, um de seus afluentes, por onde entrou à procura de uma propriedade para adquirir. Trata-se de John Luccock.  Na foz, ele percebeu.............. tratar-se a elevação rochosa ali existente de antiga ilha ligada ao continente por uma língua arenosa, no que se denomina tômbolo. Salientou a dificuldade de vadear a barra com embarcações. De canoa, ele e seu grupo empreenderam uma excursão rio acima, informando sobre sua nascente, que se situa nas montanhas de Canudos, aos pés das quais existiria um belo lago com sete milhas de comprimento e três de largura. Com toda certeza, alude a lagoa de Juturnaíba. Dela até a foz, o rio corre em extraordinários meandros por uma dilatada planície, o que o tornava navegável da desembocadura ao lago num curso de quarenta milhas. Descontadas as sinuosidades, contudo, supunha o viajante que esta distância não distaria mais de vinte milhas do mar”.
 
Em 1932, o engenheiro Francisco Saturnino Braga, fez publicar o “Relatório de Reconhecimento do Rio São João”, descrevendo suas impressões sobre este rio e seus afluentes para o Instituto Federal de Portos, Costas e Vias Navegáveis - IPC, órgão vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas. Dois anos depois, em 1934, o Engenheiro Hildebrando de Araújo Góes, chefe da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense publicou o relatório “Saneamento da Baixada Fluminense”, contendo informações sobre o rio São João. Vários mapas antigos retratam a bacia do rio São João, mas o que possui melhor precisão cartográfica é a Planta n° 6, que consta no volume anexo ao dito relatório.
 
 
Alberto Lamego, no livro o Homem e a Restinga publicado em 1946, citou que as baixadas dos rios Una, São João e das Ostras apresentavam imensas planícies embrejadas. Os pântanos do Una, com os nomes de Ramalho, Pai Alexandre e Trimutim, iam além de vinte quilômetros da costa e ligavam ao rio São João pela vala da Foz de Pedra (atual vala da Pedra e seu prolongamento, a vala do Marimbondo) hoje totalmente inoperante. Nas palavras de Lamego, “por várias dezenas de quilômetros do seu curso, da foz para montante, é ele [o rio São João] marginado de brejais imensuráveis. Morros como o São João, o da Ipuca e o da Sobara, semelham de longe ilhas na paisagem deprimida. O grande pântano do Alvarenga com duas léguas de extensão e três de largo, forçou o traçado o traçado da Estrada Leopoldina a um longo arco entre Casemiro de Abreu e Poço da Anta, e ainda por numerosos quilômetros prolonga-se pelo pântano da Pelonha marginalmente ao Maratuã ......  Quem atravessa essa erma zona por estrada de ferro, o que guarda apenas na memória são montanhas negras de florestas ou capoeiras e incomensuráveis tremedais”.
 
Antes das obras de construção da barragem de Juturnaíba e de drenagem, executadas pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS, o rio São João tinha um curso contínuo e sinuoso com cerca de 133 km. A cerca de 63 km da nascente, recebia pela margem direita o canal Revólver ou Sangradouro, que servia de escoadouro da lagoa de Juturnaíba.
 
Depois de receber o referido canal, o rio São João seguia serpenteando por mais 70 km até desembocar no Oceano. Nesta região, correspondente ao curso inferior do rio, o canal percorria uma extensa baixada onde brejos ocupavam extensões consideráveis, chegando a alcançar mais de 140 km2, ao lado de matas ribeirinhas tanto em áreas secas quanto inundadas. O rio era navegável por pequenas embarcações até o porto de Três Morros, perto de 50km acima da foz. Com a inauguração da ferrovia em 1888, o rio perdeu a função de importante via de transporte.
 
Clique aqui para ver o mapa que mostra a bacia do rio São João em 1956, quando ainda guardava muitas de suas características naturais.
 
Adiante, transcreve-se as páginas do relatório “Saneamento da Baixada Fluminense” onde são descritos os ecossistemas aquáticos da bacia do rio São João situados entre o canal do Revólver e a foz, nos anos de 1930.  

 
Rio São João
 
Nasce nas serra de São João e Santana, atravessando no seu percurso, que é de 150 km, parte dos municípios de Capivari, Cabo Frio e Araruama. Corre pelo município de Barra de São João, banhando, próximo a foz, na margem esquerda, a cidade deste nome. É navegável até a lagoa de Juturnaíba. A bacia hidrografica dos rios S. João, Capivarí e Bacaxá, é avaIiada em 2.170 quilometros quadrados. Sua descarga, medida em uma grande cheia, acusou 311 m3/seg, enquanto, durante uma estiagem prolongada, desceu a 45 m3/seg. A partir de sua confluencia com o canal Sangradouro, que o liga á Lagôa de Juturnaíba, o S. João inflete ligeiramente, para a.esquerda, até ao ponto em que se divide em dois braços. Neste trecho, que se desenvolve com a extensão aproximada de 1.700 metros e a largura de 40 m., a velocidade -superficial, si bem que apreciavel, é ainda assim, inferior á que o rio tinha antes de sua confluencia com o Sangradouro. Em sua margem esquerda, notam-se extensos pantanais, enquanto que na direita, que é elevado, o rio se aproxima de morros, revestidos de matas. Três quilometros a jusante da Lagôa de Juturnaíba, o S. João, que se divide em dois braços, forma uma ilha, coberta de capoeirão e de brejos . Após a confluencia desses dois braços, segue o rio, em curvas pronunciadas, até ao Porto de Sobára, tendo, neste trecho, cerca de 3 .500 metros e a largura de 40 m. , aproximadamente . Entre Sobára e o morro da Lagoinha, numa extensão de 5,700 quilometros, o rio, que é mais sinuoso, conserva a largura média de 40 metros, desenvolvendo-se na direção geral 60° NE
 
Até Porto Pacheco, o S. João tem o comprimento de oito mil e quinhentos metros e uma largura média de 40 o 50 m. Neste trecho, o rio abandona os terrenos elevados da margem direita para seguir os da margem esquerda, divagando, nesta passagem, entre vastos alagadiços. A vegetação predominante é a tabúa, vendo-se entretanto elevações cobertas de mato. Entre Porto Pacheco e Três Morros, nuam extenção de 5.800 metros, com largura de 50 a 60 metros, o rio São João continúa seu curso sinuoso, entre brejos, apresentando, porém, ao aproximar-se de Tr6es Morros, vegetações mais densas. Neste local, onde termina a influência da maré, o rio mede cerca de 80 metros de largura, estando, em grande parte, obstruído por vegetações aquáticas. De Três Morros até Morro Grande numa extensão de 17,5 km, o rio que tem a largura media de 80 metros,, é bastante sinuoso, sem contudo, apresentar fortes curvaturas, notando-se, á margem direita, terrenos baixos de capoeirões. De morro Grande até á foz, tem o S. João, cerca de 8.600m de extensão e a largura média de 80 metros, apresentando-se mais sinuoso. Nesse trecho, predomina o capoeirão, até as proximidades da embocadura, onde se desenvolve, então, na margem direita, o mangue. No lado oposto esta a cidade de Barra de São João.
 
São afluentes do rio São João pela margem esquerda
 
Rio Aldeia-Velha.- O Aldeia-Velha e o Capoeira reúnem-se antes de atravessar a E.F. Leopoldina, tomando, daí em diante, o nome de rio Aldeia. Este rio, proximo á foz, abandonou seu antigo curso, inundando a região compreendida entre ele e o Indoiassu. O pântano, no qual o Aldeia-Velha e o Indaiassú lançam suas águas, estende-se das imediações da estação de Indaiassú até Juturnaíba, tendo cerca de duas braças de profundidade em todos sentidos. No meio deste brejal, chamado "Alvarenga", elevam-se alguns morros em meia laranja.
 
Rio, Indaiassú - A partir da confluência com o Aldeia Velha, recebe o São João um pouco mais adiante, pela margem direita, o rio Morto, mais além, pela esquerda, percebemos uma entrada dagua que mais nos parece um furo, si bem que se possa tratar de um pequeno afluente. De acôrdo com o mapa do Estado do Rio, organizado por ocasião da presidencia Raul Veiga, era de esperar que se tratasse do Indaiassú, porém não tivemos esta impressão. Confirmando tal ponto de vista, moradores da região, inclusive o Sr. Pedro Costa, hoje coletôr federal de Santana de Japuíba, que passou nas imediações do rio S. João, afirmam que o Indaiassú se une ao Aldeia Velha, antes de lançar-se no S. João. Esta versão nos pareceu mais verdadeira, pois não vimos nada que pudesse ser razoavelmente atribuido á confluencia do São João com Indaiassú.
 

Croqui do baixo curso dos rios da Aldeia e Indayassu
Fonte: Góes, 1934
 
 
 
O rio Indaiassú nasce na serra do Berta, correndo, bastante sinuoso, até á Barra de Eva, em capoeirão, na extensão de 8 Km. com a largura média de 8m. Recebe o Indaiassú, nesse trecho, pela margem esquerda, o corrego Catarina, e, pela margem direita, os riachos do Engenho e do Tambú. Até ao brejal do Alvarenga, o rio corre, com fundo arenoso, em vargem alta, onde predominam o guanandí e a tabibuia, estando seu leito obstruido de balsêdos. Antes de chegar áquele pantano, o Indaiassú trifurca-se, reunindo, porém, seus braços pouco adiante. Nesse trecho, que tem 4 Km. de comprimento, a largura do rio é de 5m. Em seguida, o Indaiassú, numa extensão apropriada de 5 Km., atravessa, com margens margens mal delimitados, extenso pantanal. Por fim, depois de receber o Aldeia-Velha, lança-se, com mais 1,5 Km. de curso, no rio S. João, com a denominação de Ipiaba.
 
Rio Lontra - Este pequena afluente, que nasce também na serra da Berta, desemboca no S. João, após um curso de 20 Km., nas proximidades do Porto de Três Morros. Tem barrancos bem definidos, intensa vegetação nas margens, pouco profundidade e fundo arenoso, estando com o álveo, ao longo dos oito primeiros quilômetros, completamente obstruido
 
Rio Dourado - Até dez quilometros a partir da fóz, o Dourado corre entre margens altas. Para montante, devido á obstrução do alveo, o rio abandonou o antigo curso, formando um verdadeiro emaranhado de riachos e valões. Entre o aterrado do Constantina e a ponte Preta, na extensão de sete quilometros, o Dourado é estreito, correndo entre margens de copoeirão. Daí para montante, ó rio bifurca-se: um braço segue na direção N E E, o outro inflete-se para a direita, passando na estação de Rio Dourado, São seus tributarios, pela margem direita, o Rosalina, o riacho das Outros e o Aleixo, que cortam o leito da E. F. Leopoldina. O Dourado lança-se no rio principal proximo ao porto do Morro Grande.
 
São afluentes do S. João pela margem direita:
 
Riacho Gavião - Nasce nas serras Lavras e Imbaribas.
 
Sangradouro - É mais um canal natural, ligando a Lagôa de Juturnaíba ao S. João, tendo a extensão de 1.200 metros e a largura média de 60 metros. Encontra-se parcialmente obstruido, pelas vegetações aquaticas, sendo, por isso, a velocidade do corrente pequena. Em sua margem direita, os brejos limitam-se, a certa distancia, pelos terrenos elevados, enquanto que, na esquerda, só existem pantanais. As sondagens ao longo deste sangradouro, durante a estiagem, acusaram a profundidade média de 2m,50.
 
Rio Morto - Nasce nas vertentes da Serra da Bôa Esperança, lançando-se, no rio principal, perto da confluencia deste com o Aldeia Velha.
 
Rio Preto - Este ribeirão desemboca, depois de pequeno percurso, no S. João.
 
Rio Camarupi - O Camarupí, que é um rio de declividade muita fraca, corre entre os pantanos do Araçá e Sapucaia Nova. O S. João, ao receber o Camarupí, no local denominado "Poço", inflexiona-se, fortemente, para a esquerda.
 
Riacho Guarulhos - Escôa as aguas da Fazenda dos Guarulhos.
 
Riacho Taquarussú – Desseca as terras da Fazenda São José.
 
Rio Gargoá – Origina-se no pantano Boa Vista surgindo no local conhecido por Boca do Rio. Dái até Sambambaia, numa distância aproximada de 12 km, esta completamente obstruído por troncos caídos no álveo. Para jusante, o rio corre, até a foz, ao longo de 9km, com a largura média de 12
 
Lagoa de Juturnaíba - Formada pelos rios Capivari e Bacaxá, tem cerca de 5 km em sua maior extensão e 2,5m na menor. Suas profundidades oscilam entre 1 e 5 metros, atingindo a variação máxima de nível, entre a maior cheia e a estiagem mais intensa, cerca de 3,9m. As margens sul e leste da lagoa estão cobertas de vegetação aquática, constituída por tabúas e aguapés. 
 
Rio Capivari – Nascendo na Serra das Lavras, desenvolve-se com cerca de 15 km de extensão e 10m de largura, desde sua foz na lagoa de Juturnaíba até a Estação de Capivari. Ao longo dos três primeiros quilômetros, corre, com margens definidas no imenso brejal que circunda aquela lagoa, tendo, na foz, em época de estiagem, um metro de profundidade. Para montante o rio atravessa, em geral, capoeiras altas
 
Rio Bacaxá - Nasce também, na Serra das Lavras. É tributário da Lagoa de Juturnaíba, onde se lança depois de receber, como afluentes, o São Domingos e o Catimbáu. Está com a foz inteiramente obstruída de aguapé, impedindo a entrada de qualquer embarcação.
 
As inundações permanentes a que estavam sujeitas as baixadas litorâneas fluminenses foram avaliadas por Hildebrando de Góes e seus colegas em 1934.  Ele apontou quatro causas: constituição geológica, configuração topográfica e chuvas. Vale a pena reproduzir a análise, que se aplica à baixada do rio São João e retrata a visão de engenharia da época.   
 
“Constituição geológica - A maior ou menor impermeabilidade dos terrenos inflúe, consideravelmente, sobre as cheias dos cursos dagua. Em regiões de rochas impérvias, despidas de florestas, as enchentes são violentas e repentinas, emquanto que terrenos facilmente permeáveis, cobertos de vegetação, funcionam como reservatórios reguladores, que acumulam as grandes precipitações atmosféricas, para, depois, alimentar, lentamente, os rios. Entretanto, uma zona de terrenos permeáveis, depois de saturada por chuvas, prolongadas, comporta-se como um terreno impermeável. Na Baixada Fluminense, encontra-se, em geral, uma camada superficial de argila quaternária impermeável. Quando o relevo do sólo forma depressões, as águas nelas se acumulam, originando lagôas e brejos permanentes. Esta camada diminúi bastante a infiltração, de modo que a maior parte das aguas pluviais, que cáem nas bacias hidrograficas, correm pela superfície, agravando as cheias. Junte-se a esta circunstancia o grande número de picos e morros desnudos da Serra do Mar, onde os rios da Baixada teem suas cabeceiras, e coligir-se-á a influencia decisiva que tem a natureza geologica dos terrenos sobre as enchentes dos cursos dagua, que sulcam a planicie fluminense”.
 
“Configuração topográfica -Outro fator, que inflúe fortemente na intensidade de uma enchente, é a inclinação dos terrenos. Dela, depende a velocidade com que as aguas correm. Dela, resulta, portanto, o tempo que levam para chegar a um determinado ponto. Maurice Pardé, realçando a influencia que as altitudes têm sobre o clima e as chuvas, acha que o relêvo é o principal fator no regime dos rios.
A topografia da Baixada revela condições muito favoraveis ao transbordamento dos rios. Em seus confins, uma cordilheira ingreme levanta-se, quasi verticalmente. Segue-se-lhe uma grande planície.....Examinando, sómente, a topografia, temos uma região de grande declividade, onde as aguas correm com extraordinaria rapidez, seguida de uma outra, em que a velocidade cái bruscamente, em virtude da grande diminuição da declividade. Daí, resulta a inundação das várzeas”.
 
“Chuvas - As precipitações atmosféricas são mais intensas nas terras altas que nas planicies. A ascenção, que as nuvens são forçadas a fazer de encontro á Serra do Mar, determina grandes precipitações que vêm concorrer para a inundação das planícies”.
 
A insuficiencia das secções de vazão dos rios - Os rios da baixada têm, em sua maioria, secção transversal insuficiente para escoar os grandes volumes de água, por ocasião das fortes chuvas. Esta insuficiência agrava-se, ainda, com as obstruções existentes em seus cursos: vegetação aquática, troncos de árvore, currais de peixes, bancos de areia, etc. Esta obstruções modificam, consideravelmente, o escoamento das águas.......Além de sua insuficiência de secção, notam-se mais, numerosos e longos meandros que diminuem a declividade, e, portanto, a velocidade da corrente, e, em consequencia, o valor da descarga.    
 
No capítulo em que se dedica a analisar soluções para eliminar as cheias, Hildebrando de Góes faz algumas apreciações curiosas, contrária ao que efetivamente recomendou para a drenagem das baixadas. Cita ele que “os lagos e lagôas, existentes ao longo de um rio, são ótimos moderadores de sua descarga. Os exemplos, neste sentido, são classicos. O lago de Genebra para o Rodano, o lago de Constança para a Rena, os lagos da alta Italia para o Pó, e, sobretudo, os grandes lagos da America do Norte paro a S. Lourenço, são grandes aparelhos moderadores das cheias produzidas pela escoamento rapido das aguas naqueles cursos fluviais. O notavel engenheiro francez Saint Venant, aconselhava, mesmo, o manutenção dos brejos e banhados, devido ao efeito regulador que teem sobre o descarga dos cursos dagua, que os atravessam. O reflorestamento das cabeceiras dos rios é aconselhado, pela maioria dos autores, como uma bôa medida, conquanto, por si só, não póssa resolver o problema das inundações. Realmente, depois que um sólo está saturado dagua, após chuvas prolongadas, o efeito das matas, é praticamente nulo, quando ocorre um grande aguaceiro. Os americanos, que executaram observações interessantes sobre a ação das florestas, concluiram que o seu efeito em relação ás cheias, não é tão intenso quanto se julgava, a menos que se verifique uma grande chuva, durante um periodo sêco. Não obstante, o Governo deve impedir o devastamento de nossas matas, decretando as devidas medidas acauteladoras. O poder retentor das matas, relativamente ás precipitações atmosféricas, que cáem em uma área, por elas protegida, é indiscutivel. Qualquer trabalho para o conservação ou restabelecimento da vegetação na bacia de um curso dagua sería de efeitos beneficos e compensadores. As florestas retardam o escoamento superficial das aguas, que é uma das causas das inundações. Além disso, como disse Saurell, um dos melhores recursos contra as erosões intensas de uma corrente é a vegetação”.
 
Examinando-se as descrições antigas, releva destacar os seguintes aspectos:
 
Aires de Casal e Hildebrando de Góes consideravam o rio Águas Claras como o formador do rio São João;   
O rio Aldeia Velha era ao que tudo indica um afluente do rio Indaiassu. A vala do Consórcio é o antigo riacho Guarulhos enquanto que a vala do Jacaré tinha o nome de riacho Taquaruçu;
Na baixada do rio São João os fatores responsáveis pelo permanente alagamento eram a pequena declividade do terreno aliada as chuvas e a camada impermeável de tabatinga no subsolo;



FONTE: Consórcio Intermunicipal para Gestão Ambiental das Bacias da Região dos Lagos, do Rio São João e Zona Costeira