Ignacy Sachs - Já passamos por duas grandes transições na história. A primeira ocorreu quando a nossa espécie passou da caça para a agricultura e pecuária. Depois, aconteceu a segunda grande mudança, no fim do século XVII: a transição para as energias fósseis, abundantes e baratas. Essa transição está na base das revoluções industriais que aumentaram de uma maneira extraordinária. Se, por um lado, a variedade de coisas que estamos produzindo deu lugar a um progresso técnico enorme, por outro, ela vem causando uma emissão cada vez maior de gases de efeito estufa, colocando na agenda o problema da mudança climática. É verdade que estamos no começo de uma saída que levará décadas para acontecer. Nesse novo cenário, vamos outra vez depender, e cada vez mais, da energia solar captada pelo processo de fotossíntese, que era a principal energia da humanidade, antes da revolução da energia fóssil. Contudo, não estou dizendo que iremos regredir. Ao contrário, hoje já sabemos usar melhor a biomassa. Ela é utilizada como ração animal, adubo verde, material de construção, bioenergia, ou seja, é matéria-prima de toda uma química verde. Por isso, devemos falar em biorefinaria como uma analogia à refinaria do petróleo. E é isso que chamo de biocivilização moderna.
Quando falamos em substituição de energia fóssil, estamos tratando daquela que provoca emissão de gases estufa, ou seja, petróleo, gás e, sobretudo, as formas atuais da queima de carvão. Nesse contexto, também enfrentamos o problema dos biocombustíveis líquidos, como etanol, biodiesel e biogás, que pode ser produzido em biodigestores, a partir do esterco animal ou dos resíduos orgânicos da cidade, e o problema do carvão vegetal, que requer uma discussão aprimorada, pois a maneira como ele vem sendo produzido, através do corte da lenha, é extremamente predatória, na medida em que consiste na destruição das matas nativas. Outro agravante é a maneira como esse produto é queimado, dentro de um ambiente fechado como a casa: ele produz fumaça e gases poluidores, tendo efeitos muito negativos sobre a saúde. Devemos, então, o mais urgente possível, eliminar essa forma de produção de carvão. Mas, ao mesmo tempo, abre-se a possibilidade de se produzir um carvão vegetal a partir de biomassas plantadas e replantadas. Portanto, não há necessidade de mexer com a mata nativa. Com essas alternativas propostas a partir da biomassa, a humanidade se encaminha para mais um período de transição. Surge, assim, uma nova geração de tecnologias de produção que classifico como carvão vegetal verde.